Psicodiagnóstico: paradigmas, experiências, histórias cruzadas e desafios futuros

Psicodiagnóstico: paradigmas, experiências, histórias cruzadas e desafios futuros

Coautora: Cidiane Vaz Melo
Doutora em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Mestre em Psicologia Clínica pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Especialista em Psicologia Clínico Institucional – Modalidade Residência Hospitalar (IP-UERJ). Professora adjunta da Universidade Federal Fluminense (UFF). Membro Associado do Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP). Membro Associado da Associação Brasileira de Rorschach e métodos projetivos (ASBRo). Membro do GT ANPEPP Métodos Projetivos.
Endereço eletrônico: cidianevaz@gmail.com

Resumo: O psicodiagnóstico vem passando por profundas mudanças desde a sua emergência até a atualidade. Neste trabalho, apresentamos o percurso desenvolvido no Setor de Psicodiagnóstico da UDA de Psiquiatria do HUPE desde a sua fundação até o presente momento, articulada à história do psicodiagnóstico no Brasil. Apresentamos algumas concepções que foram sendo desenvolvidas ao longo do trabalho no Setor e assinalamos o papel de resistência do psicodiagnóstico no cenário atual.

Palavras-chave: psicodiagnóstico, avaliação psicológica, instrumentos de avaliação.

Introdução

O psicodiagnóstico constitui-se como um tipo de avaliação psicológica que tem como particularidade a escuta clínica, concebida como o elemento organizador de todo o processo. Nesse sentido, durante um psicodiagnóstico a relação estabelecida entre o examinador, o examinando e a escuta clínica tem um papel relevante na condução do processo, sendo a entrevista psicológica o principal instrumento de trabalho, apesar de serem frequentemente utilizados testes psicológicos para compor a avaliação. Para além de um processo avaliativo, trata-se de uma atitude terapêutica levada à situação.

A palavra psicodiagnóstico associa etimologicamente dois termos que o caracterizam, ambos de origem grega: o psíquico, relacionado à phsyche que corresponde a “sopro de vida, alma, princípio da vida” e o diagnóstico, derivado do termo diagnostikos que significa “capaz de distinguir, de discernir”. Nesse sentido o termo psicodiagnóstico se refere a uma tentativa de distinguir, de discernir elementos atuantes no psiquismo.

O processo psicodiagnóstico em seus primórdios organizava-se de maneira significativamente diferente de sua concepção mais atual em termos de objetivos e de seus procedimentos técnicos. Araújo (2007) assinala que o modelo médico influenciou enormemente as práticas de avaliação psicológica, sobretudo no período inicial da regulamentação da Psicologia enquanto profissão. Nessa perspectiva, o papel do psicólogo ao atuar nessa área estava limitado a endossar diagnósticos psicopatológicos, ocupando, nesse sentido, uma posição bastante subalterna em relação aos médicos. Tendo como referência o modelo médico, a ênfase das avaliações recaia sobre os sintomas, o uso da classificação nosológica e o emprego de testes, sobretudo os psicométricos, para identificar determinadas características patológicas da personalidade do indivíduo. Observa-se, assim, que o início das práticas avaliativas se mostrou muito marcado por inseguranças em relação ao papel do psicólogo, pela falta de uma identidade profissional mais consolidada e pela busca por parâmetros quantitativos na tentativa de conferir maior cientificidade ao trabalho desenvolvido.

Fundamental para as mudanças sobre a concepção de diagnóstico psicológico e sobre a avaliação psicológica foi a lei 4.119 de 27 de agosto de 1962, que regulamentou os cursos de formação em Psicologia e as práticas associadas à profissão de psicólogo no Brasil, incluindo o diagnóstico psicológico. Nesse sentido, a prática avaliativa e as construções diagnósticas passaram, a partir de então, a ser concebidas não apenas com referências ao saber médico, mas sobretudo a partir de referências da área da Psicologia que envolvem contribuições relevantes de autores argentinos, como Ocampo (1981) e Arzeno (1999), bem como de brasileiros, tais como Trinca (1983) e Augras (1986), entre outros.

Com o fortalecimento da profissão de psicólogo no Brasil e com a consolidação de uma identidade afinada às especificidades das práticas profissionais e dos princípios éticos que regem a profissão, o psicodiagnóstico também passou por transformações bastante significativas em termos de suas concepções e aplicações práticas. De acordo com Araújo (2007), essa mudança vai incidir sobre o próprio termo diagnóstico que atualmente tem sido utilizado de forma ampla, com sentido mais próximo de seu significado etimológico, evocando sempre um estudo aprofundado realizado com o objetivo de conhecer determinado fenômeno ou realidade, por meio de um conjunto de procedimentos técnicos e metodológicos, calcados em embasamento teórico referendado. A autora assinala ainda que no âmbito da Psicologia, as práticas de diagnóstico e avaliação psicológica tiveram, e ainda têm, um papel fundamental na formação e constituição da identidade profissional do psicólogo. Entretanto, apesar da constatação de sua importância, observamos ainda hoje um grande desconhecimento e consequente despreparo no que diz respeito à área, a suas propostas metodológicas, teóricas e práticas no próprio meio profissional. Essa realidade foi abordada em estudo desenvolvido por Noronha (2002) que constatou:

Se por um lado existe o psicólogo que está atuando na prática, que não está preparado para as solicitações do mercado profissional e que não está atualizado, por outro lado, têm-se instituições formadoras que não estão formando de acordo com as necessidades  147 profissionais, e por outro lado ainda, têm-se os pesquisadores cujos conhecimentos e descobertas não estão sendo transmitidos de maneira eficiente (Noronha, 2012, p. 140).

Desde as primeiras publicações sobre psicodiagnóstico até as contribuições atuais, observamos mudanças bastante significativas, tanto em relação à concepção do processo que pode ser pensado em associação ou não com testes psicológicos, até a postura do psicólogo e do cliente, os alcances do processo e seu papel interventivo. Nessas mudanças inclui-se o Setor de Psicodiagnóstico da Unidade Docente Assistencial de Psiquiatria do Hospital Universitário Pedro Ernesto, único na cidade do Rio de Janeiro, que desde sua fundação em 1982 acompanhou transformações pelas quais o processo psicodiagnóstico passou, sendo ele próprio propositor de mudanças a partir da atuação prática que veio desenvolvendo ao longo dos anos e pela interlocução com outras áreas hospitalares, além da própria Psiquiatria, como Nutrição, Cardiologia, Neurocirurgia, Saúde do Adolescente, Psicologia Médica, entre outras. Além de responder a demandas de serviços de saúde de outros municípios, passou a desenvolver parcerias com o Judiciário através de seus diversos órgãos, não apenas do município do Rio de Janeiro, mas também de outros municípios fluminenses e até mesmo de outro Estado (Minas Gerais). Tais parcerias envolvem basicamente situações de violência contra crianças e adolescentes, bem como violência doméstica.

Neste trabalho apresentamos a atuação desenvolvida no Setor de Psicodiagnóstico da Unidade Docente Assistencial de Psiquiatria do Hospital Universitário Pedro Ernesto, bem como concepções teórico-práticas que nortearam sua atuação docente-assistencial. Concluímos com nosso posicionamento em relação ao processo psicodiagnóstico e com alguns assinalamentos sobre expectativas e desafios futuros relativos a essa área tão importante de atuação exclusiva do psicólogo.

O Setor de Psicodiagnóstico (IP/HUPE/UERJ): o relato de um percurso

O Setor de Psicodiagnóstico foi criado a partir de uma demanda da Unidade Docente Assistencial de Psiquiatria ao Instituto de Psicologia em 1982, quando se iniciaram as articulações para sua implementação, tendo iniciado suas atividades em janeiro de 1983, ao responder aos primeiros pedidos de parecer advindos da própria Unidade de Psiquiatria (Almeida-Prado, 1999). Desde então vem atuando não apenas em termos assistenciais, mas também quanto à capacitação de estagiários do Curso de Graduação em Psicologia da UERJ, de alunos de cursos de Psicologia de outras universidades e psicólogos em treinamento em serviço, conforme oferecido pela Coordenação de Desenvolvimento Acadêmico (CDA) do HUPE. A partir de 1993 o Setor passou a compor com o projeto do Curso de Especialização em Psicologia Clínico-Institucional – modalidade Residência, passando a receber residentes.

Tratando-se de área bastante complexa, sua capacitação é exigente e requer a integração de conhecimentos em Psicologia do Desenvolvimento, Psicopatologia, Psicodinâmica Familiar, além daqueles específicos em técnicas de entrevista, testes psicológicos e elaboração de documentos calcados em avaliação psicológica. Estando a formação na cidade do Rio de Janeiro bastante insuficiente em termos acadêmicos, seja por restrições quanto à carga horária destinada às disciplinas dirigidas especificamente à área, seja pelo desinteresse de docentes que não a valorizam ou não estejam devidamente capacitados para dar-lhe o devido valor, dá-se um contraste expressivo entre a demanda de trabalho existente no mercado e a capacitação precária de profissionais para atuarem na área, o que se evidencia pelo número expressivo de processos e representações éticas junto a Conselhos Regionais de Psicologia. Tal situação denigre não apenas os profissionais diretamente implicados, mas a própria classe de psicólogos, já que são muitos, como se pode constatar.

Avaliação psicológica e psicodiagnóstico: paradigmas e definições

A avaliação psicológica tem sido definida na atualidade como a busca pela construção de um saber sobre a vida mental de indivíduos e grupos. Sendo assim, trata-se de um procedimento  149 investigativo a respeito de diversos elementos que compõem o funcionamento psíquico e dizem respeito à dinâmica da personalidade, como afetividade, funções cognitivas, padrões de relação pessoais e familiares, dentre outros aspectos. Envolve um corpo organizado de princípios teóricos, métodos e técnicas de investigação como entrevista e observações clínicas, testes psicológicos, técnicas projetivas e outros procedimentos de investigação clínica, como as técnicas expressivas, com jogos, desenhos e recursos diversos. A escolha das estratégias e dos instrumentos empregados é feita sempre de acordo com o referencial teórico, o objetivo da avaliação, isto é, os elementos que se deseja investigar, e a finalidade, o contexto para o qual se destina.

A Cartilha sobre Avaliação Psicológica (CFP, 2007) a define como:
[…] um processo técnico e científico realizado com pessoas ou grupos de pessoas que, de acordo com cada área do conhecimento, requer metodologias específicas. Ela é dinâmica, e se constitui em fonte de informações de caráter explicativo sobre os fenômenos psicológicos, com a finalidade de subsidiar os trabalhos nos diferentes campos de atuação do psicólogo, dentre eles, saúde, educação, trabalho e outros setores em que ela se fizer necessária. Trata-se de um estudo que requer um planejamento prévio e cuidadoso, de acordo com a demanda e os fins aos quais a avaliação se destina. (Conselho Federal de Psicologia, 2013, p. 8).

Podemos afirmar que atualmente as concepções sobre o psicodiagnóstico se mostram bastante afinadas à perspectiva de avaliação psicológica apresentada pelo Conselho Federal de Psicologia, sendo ele próprio um elemento fundamental na construção desse entendimento. Sendo assim, podemos afirmar que o psicodiagnóstico teve um papel muito relevante para a construção da atual visão de avaliação psicológica, uma vez que abrange possibilidades de atuação bastante diferenciadas dos “testólogos”, como assinala Cunha (2000), ou das preocupações com os diagnósticos psicopatológicos. Ao adotar uma perspectiva clínica mais identificada com a teoria psicanalítica ou fenomenológica, o psicodiagnóstico distanciou-se da preocupação com a neutralidade e a objetividade, passando a enfatizar a importância da subjetividade e dos aspectos transferenciais e contratransferenciais presentes no enquadre. Assim, ao uso de testes foram acrescentados outros procedimentos, com o objetivo de complementar dados obtidos através da testagem, com ênfase nas técnicas de entrevista, no que se passa no aqui-agora da sessão, na história de vida do examinando, com vistas à obtenção de uma compreensão global de seu estar no mundo.

O psicodiagnóstico contou com uma série de contribuições, conforme mencionamos acima. Entretanto, tendo em vista o trabalho desenvolvido no Setor de Psicodiagnóstico, cuja referência teórica se fundamenta na psicanálise, apresentaremos brevemente concepções de Ocampo, Arzeno e cols. (2005), de Arzeno (2003) e de Trinca (1983) por serem psicanalistas. Pretendemos assim situar o psicodiagnóstico a partir do referencial psicanalítico e apresentar algumas reflexões decorrentes do trabalho no Setor.

Ocampo e Arzeno sistematizaram o psicodiagnóstico com ênfase na entrevista clínica, na observação da dinâmica da transferência/contratransferência presente em todas as relações, e na devolução dos resultados ao final do processo. Para as autoras, o psicodiagnóstico apresenta-se como uma prática clínica avaliativa bem delimitada quanto ao tempo, aos objetivos, aos papéis e diferenciada de um processo analítico. Nesse sentido, a partir do psicodiagnóstico busca-se obter uma compreensão profunda e a mais completa possível da personalidade do paciente, incluindo elementos constitutivos, patológicos e adaptativos. O psicodiagnóstico nesse modelo abrange não apenas aspectos presentes referidos ao diagnóstico em si, mas também futuros, com a busca de uma perspectiva prognóstica. Dessa forma, o processo é considerado a partir de etapas delineadas previamente, desde o contato inicial à entrevista de devolução. Os instrumentos incluem a entrevista clínica, a aplicação de testes e técnicas projetivas. Essa perspectiva mostra-se estreitamente afinada com o modelo clínico e a partir dela, o psicólogo deve, através das entrevistas e dos testes, construir um conhecimento sobre o examinando, que por sua vez deve colaborar com o processo e receber uma devolutiva sobre si ao final.

Enquanto Ocampo e Arzeno delimitam o psicodiagnóstico em etapas que devem ser seguidas de maneira mais rígida e levam em consideração uma situação na qual uma pessoa pede ajuda a outra supostamente em condições de vir a ajudá-la, Trinca (1983) concebe o processo psicodiagnóstico de maneira bastante peculiar, dando ênfase à relação construída entre o psicólogo e o cliente, à criatividade do examinando e do examinador e à construção conjunta de conhecimento sobre o funcionamento mental do examinando a partir de um viés relacional. O modelo de atuação proposto pelo autor foi muito difundido entre os profissionais brasileiros que trabalham com avaliação psicológica na abordagem psicanalítica.

Trinca (1983) busca no psicodiagnóstico desenvolver uma visão abrangente e integradora da personalidade, por meio da compreensão das dinâmicas psíquicas, intrafamiliares e socioculturais. Para isso, dialoga com outros campos do conhecimento que não apenas a psicanálise. Desse modo, a análise é complementada com interlocuções com teorias do desenvolvimento, as relativas à dinâmica de grupo, à dinâmica familiar, psicopatologia, dentre outras. Tem ainda como características importantes a valorização do pensamento clínico e uma maior flexibilidade, na estruturação do processo que deixa de ser pensado a partir de etapas pré-estabelecidas, como as definidas por Ocampo e Arzeno (2005). A relação e o vínculo desenvolvidos entre o psicólogo e o cliente são valorizados como um dos principais elementos do processo psicodiagnóstico. Neste sentido, o uso de testes psicológicos ou qualquer outro procedimento clínico de investigação da personalidade, torna-se dependente do pensamento clínico empregado, sistematizado a partir do que é próprio à relação estabelecida entre examinador e examinando (Trinca, 1983). Assim, a clínica se coloca como princípio organizador na interpretação dos dados, definindo os critérios, os procedimentos e os esquemas de raciocínio, para integração dos dados e para sua análise. Cabe salientar que esta forma de atuação se mostra referida ao modelo clínico, porém tendo em vista as articulações propostas com outros campos do saber, torna-se mais adequada ao exame de situações que extrapolam a clínica, como por exemplo as perícias psicológicas ou assistências técnicas solicitadas no âmbito judiciário.

A partir do ano 2000 fez-se uma proposta de psicodiagnóstico fortemente influenciada pelo modelo desenvolvido por Trinca (1983), na qual a avaliação e a intervenção são pensadas simultaneamente. Este modelo passa a ser denominado de psicodiagnóstico interventivo e, apesar de não ser um processo psicoterápico, visa produzir efeitos terapêuticos a partir da reflexividade promovida durante o processo e das devoluções realizadas a cada encontro.

Milani, Tomael e Greinert (2014) assinalam que a aplicação do psicodiagnóstico no modelo interventivo vem sendo utilizada desde a década de 1990 por alguns profissionais da área de Psicologia. Em alguns atendimentos constataram-se efeitos terapêuticos nos pacientes após passarem pelo processo psicodiagnóstico sem que houvesse, por parte dos profissionais, a intenção de interferência. Esses resultados levaram-nos a questionar se o simples fato do contato examinando-examinador já não provocaria reações que propiciariam certa reorganização mental do examinando.

Barbieri (2010) define o psicodiagnóstico interventivo como “um procedimento clínico que consiste em efetuar intervenções já no momento de realização de entrevistas e aplicação de testes, oferecendo ao paciente devoluções durante todo o processo avaliativo e não somente ao seu final” (p. 210). De acordo com a autora, no psicodiagnóstico interventivo há a priorização de instrumentos pouco estruturados e baseados na associação livre, como as entrevistas. Assim, o uso de técnicas projetivas faz com que as preocupações sobre validade, precisão e padronização estatística não tenham muito sentido nesse contexto. Os objetivos da avaliação abrangem as dinâmicas intrapsíquica, intrafamiliar e sociocultural como forças em interação, formando uma trama que pode resultar em sofrimento e desajuste. A análise dos elementos psíquicos é sempre referida a seu caráter idiossincrático e pessoal. Nessa perspectiva, pode-se afirmar que o psicodiagnóstico interventivo se baseia numa postura criativa e que integra compreensão e intervenção (Tardivo, 2007).

Nesse entendimento, o manejo relacional, a análise da transferência e da contratransferência, a emergência de aspectos inconscientes e o desenvolvimento de pesquisas que apontam para os aspectos singulares da psicodinâmica do sujeito avaliado são muito valorizados. Para Barbieri (2010), a psicoterapia e o psicodiagnóstico interventivo se mostram afinados uma vez que vão de encontro à proposta de Bleger (1980) quando assinala que uma boa observação requer formular hipóteses durante a entrevista e verificá-las no momento mesmo em que elas ocorrem, de acordo com as observações subsequentes; assim, do seu ponto de vista, observar, pensar e imaginar compõem um único processo dialético, indissociável e complementar. Entretanto cabe a pergunta: é possível realizar o psicodiagnóstico interventivo em todas as situações de avaliação psicodiagnóstica? Seria todo psicodiagnóstico interventivo? Conforme vimos, a resposta é não, pois dependerá da técnica e da postura teórica adotadas pelo examinador, além de ter-se que considerar a própria abertura do examinando quanto ao processo em andamento.

De acordo com Barbieri (2010), o psicodiagnóstico interventivo poderia ser estruturado a partir de alguns eixos comuns àqueles apresentados por Trinca (1983), como a busca pela elucidação do significado latente e as origens das perturbações psíquicas, a ênfase na dinâmica emocional inconsciente do paciente e de sua família, a consideração do conjunto do material clínico apresentado e a busca por uma compreensão globalizada do examinando. Neste modelo, o psicólogo seleciona os aspectos centrais e nodais para a compreensão dos focos de angústia, das fantasias e mecanismos de defesa, utiliza, predominantemente, o julgamento clínico, estando implicada a utilização de recursos mentais do psicólogo para avaliar a importância e o significado dos dados. Durante o processo, o diagnóstico mostra-se subordinado ao pensamento clínico e ao referencial teórico utilizado pelo profissional, sendo privilegiadas as entrevistas, a análise da transferência e da contratransferência e as técnicas projetivas.

Mais recentemente tem se observado que apesar de a entrevista e as técnicas projetivas serem consideradas elementos prioritários na condução do psicodiagnóstico, observa-se cada vez  154 mais a utilização de outros recursos complementares, como os testes objetivos ou psicométricos. Esse uso mostra-se justificado na medida em que os instrumentos são concebidos como recursos auxiliares na investigação de problemas variados do funcionamento psicológico, sendo o sujeito avaliado o beneficiário do processo. Assim, são as hipóteses formuladas a partir do contato com determinado sujeito que nortearão a escolha dos instrumentos mais adequados para sua avaliação. Essa perspectiva já vem sendo descrita na literatura, conforme contribuições de Cunha (2005) e Primi (2010).

Caracterizando uma prática

Ao longo do trabalho que foi desenvolvido no Setor de Psicodiagnóstico, uma identidade relativa à concepção de psicodiagnóstico e o direcionamento das práticas foram sendo consolidados. Assim, cabe retomarmos alguns pontos importantes que caracterizaram o trabalho no Setor. Nesse sentido o psicodiagnóstico passou a ser pensado para além de seus aspectos clínicos, mas especialmente como uma forma de organização do raciocínio investigativo, apoiado em uma concepção de avaliação como produção de conhecimento sobre a vida psíquica em seus aspectos conscientes e inconscientes, no caráter interventivo do trabalho, na escuta da transferência e da contratransferência, e nas marcas produzidas no e pelo vínculo intersubjetivo.

Assim, um primeiro elemento que se destaca é o caráter interventivo do psicodiagnóstico. Apesar de a proposta ser avaliativa, sempre foi sustentada a compreensão de que o psicodiagnóstico produz efeitos terapêuticos decorrentes do vínculo intersubjetivo, da proposta e da sustentação de uma perspectiva reflexiva. Nesse sentido, busca-se explicitar os sentimentos relativos à avaliação, bem como as fantasias que, conforme sinaliza Isaacs (2007), produzem efeitos reais, não apenas no próprio indivíduo, como também em seu entorno. Neste sentido, o trabalho avaliativo envolve em grande medida a possibilidade de se examinar a história pessoal do sujeito avaliado, buscando compreender suas marcas subjetivas, seus vínculos, conflitos, desejos e estratégias defensivas. Observamos que o exame compartilhado desses aspectos permite, em muitos casos, a ocorrência de uma comunicação autêntica não apenas do sujeito examinado em direção ao examinador, mas também voltada para seus próprios elementos internos. Essa comunicação, possível pela compreensão de elementos atuantes no aqui-agora da sessão, permite com frequência o deslocamento do sujeito frente a situações incompreendidas e estagnadas.

Outro ponto que caracteriza a prática do psicodiagnóstico no referido Setor é a valorização não apenas de elementos transferenciais, mas também da análise da contratransferência. Cabe salientar que tal análise difere daquela feita no contexto psicanalítico a partir do uso de interpretações. Apesar disso, tais elementos são considerados norteadores segundo a perspectiva de Heimann (1950, 1960) e Racker (1948).

A transferência é definida por Freud (2003b) como a repetição de clichês estereotípicos por parte do paciente em relação à figura do analista. Nesse sentido, para Freud, o paciente impedido de recordar, repetia com o analista posturas, pensamentos e sentimentos relativos às relações primárias, frequentemente as figuras parentais. Durante um psicodiagnóstico observamos a reatualização de sentimentos, posturas e expectativas que não serão interpretadas como em trabalho psicanalítico, mas que serão escutadas e consideradas durante todo o andamento do processo.

A contratransferência é definida como o conjunto de reações inconscientes do analista à transferência do paciente (Bokanowski, 2002; Mijolla, 2005; Sandler, 1986; Steiner, 1997). Nos primórdios da psicanálise, foi considerada como resistência do analista provocada por conflitos inconscientes relacionados ao conteúdo do relato do paciente. Era vista, portanto, como um obstáculo a ser superado pelo analista através do autoexame (Freud, 2003b; Sandler, 1986). Posteriormente, com os trabalhos de Racker (1973) e Heimann (1950), a contratransferência passou a ser entendida como uma importante ferramenta para a compreensão do paciente e para as intervenções do analista. Trata-se de um fenômeno que diz respeito não apenas ao analista ou ao (s) paciente (s) atendido (s), mas à nova grupalidade formada por todos os presentes durante as sessões (Baranger & Baranger, 1969).

A partir de suas formulações, Heimann (1960) tratará a contratransferência como um fenômeno comum na clínica analítica e a olhará de modo mais positivo, enfatizando os aspectos relativos à comunicação. Tal entendimento trouxe mudanças não só em relação a posicionamentos teóricos, mas especialmente quanto à técnica, uma vez que as comunicações recebidas pelo analista podem ser utilizadas para a compreensão da psicodinâmica envolvida, bem como nas intervenções clínicas. Durante o psicodiagnóstico as reações contratransferenciais devem ser observadas atentamente, pois se mostram preciosas na medida em que permitem a compreensão de situações e experiências que nem sempre são possíveis de serem postas em palavras (Melo, Magalhães & Féres-Carneiro, 2014).

Outro ponto fundamental que caracteriza o trabalho em psicodiagnóstico realizado no Setor é a escuta da dinâmica familiar, com ênfase a questões relacionadas às vivências familiares (Meyer, 2002; Eiguer, 1995), comuns a todos os sujeitos. Desse modo, busca-se compreender a constituição psíquica a partir de seus vínculos intersubjetivos, sobretudo aqueles relacionados à experiência grupal e familiar em seus primórdios. Para Kaës (1997), o grupo cumpre funções fundamentais na estruturação da psique e na determinação de posições subjetivas, uma vez que todo sujeito nasce como herdeiro, servidor e beneficiário de uma cadeia de subjetividades que o precede e da qual se torna contemporâneo. Essa cadeia subjetiva veicula discursos, sonhos e conteúdos recalcados, fazendo com que cada sujeito seja, ao mesmo tempo, parte constituída e constituinte desse conjunto. Esta concepção fundamenta-se em uma lógica dialética que considera o sujeito do grupo e o grupo como as duas faces da mesma moeda.

Destacamos que a escuta da familidade (Meyer, 2002) é realizada não apenas quando a avaliação se mostra relativa ao funcionamento subjetivo de determinado grupo familiar, mas também quando avaliamos um sujeito individualmente. Assim, as contribuições de psicanalistas franceses referidos como grupalistas, como Anzieu, Kaës, Ruffiot, Eiguer, entre outros, marcam de maneira significativa a característica do processo psicodiagnóstico realizado e ensinado em instituição, bem como a identidade do examinador

Perspectivas atuais e desafios futuros

No presente momento é possível afirmar que, apesar de terem sido produzidos avanços significativos em relação à avaliação psicológica e, especificamente, ao psicodiagnóstico, tais avanços têm sido marcados por muitas tensões, ataques, estagnações e ameaças de retrocesso. É inegável que a partir dos anos 2000 uma série de mudanças relativas à área da avaliação psicológica propostas pelo Conselho Federal de Psicologia em parceria com pesquisadores da área e entidades como a Associação Brasileira de Rorschach (ASBRO) e o Instituto Brasileiro de Avaliação Psicológica (IBAP), será decisiva para o cenário atual de maior valorização. Essas iniciativas incluem a criação da Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica, a criação do Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) e a publicação de várias resoluções e notas técnicas pelo Conselho Federal de Psicologia. Dessas parcerias decorrem diretrizes para o ensino da avaliação no Brasil, bem como artigos que discutem as particularidades desse campo e desconstroem uma série de equívocos, mormente em relação às diferenças entre o processo de avaliação psicológica e a testagem. Assim, o momento atual se mostra inegavelmente mais fértil e marcado pela pesquisa científica que em períodos anteriores. Além disso, cada vez mais temos observado o crescimento das demandas por avaliações a serem realizadas por psicólogos, com o reconhecimento de sua especificidade em termos de complementação a outros campos de saber e de atuação. Apesar disso, paradoxalmente a todo o crescimento, observa-se também que os avanços são acompanhados por retrocessos, baseados em preconceitos infundados e falta de conhecimento fundamentado, inclusive dentro do próprio campo de formação do psicólogo.

Já em 2005 Araújo assinalava que muitos cursos de Psicologia reduziam a oferta de disciplinas de testes psicológicos e técnicas projetivas conforme apontavam os resultados das pesquisas de Alves, Alchieri e Marques (2001) e de Noronha (2002) sobre o panorama geral do ensino das técnicas de exame psicológico no Brasil. Primi (2010) frisa que de 2001 a 2010 houve um aumento significativo no número de publicações sobre avaliação psicológica, porém mesmo diante desse avanço, questionamos se este não se dá também e/ou principalmente por certo retorno à busca de parâmetros psicométricos para “validar” os instrumentos e justificar o uso de determinados recursos em detrimentos de outros. Dessa forma, o avanço na área parece alavancado em grande medida pelas mesmas buscas por cientificidade que marcaram o início das práticas avaliativas no Brasil, sobretudo alavancadas pelos parâmetros psicométricos. Primi (2010) faz a seguinte afirmação:

Por ocasião da criação e implementação do SATEPSI, essa discussão foi aprofundada e felizmente se construiu um consenso de que os princípios de validação psicométricos são adequados para todos os tipos de técnicas, incluindo as projetivas [grifo nosso]. Mas ponto central situa-se na constatação de que essas técnicas têm peculiaridades que requerem métodos psicométricos mais avançados, diferentes dos habitualmente empregados. (Primi, 2010, p. 33).

Nesse sentido, a expectativa de validação, confiabilidade e cientificidade parece residir na suposição de que o emprego de técnicas psicométricas melhores e diferenciadas das atuais possam validar os recursos psicológicos, dentre os quais se incluem as técnicas projetivas. Assim, apesar da constatação de que os métodos projetivos não se adequam à análise psicométrica pelos parâmetros atuais, a esperança de que esses parâmetros sejam desenvolvidos permanece latente. Um dado interessante que serve para ilustrar as nossas colocações pode ser observado em relação às publicações da Revista Avaliação Psicológica, importante periódico da área. Em uma pesquisa em seu portal eletrônico, contata-se que de 2002 a 2017, ou seja, em um período de quinze anos, apenas sete artigos contam com a palavra psicodiagnóstico nos descritores. Mesmo assim, nem todos os artigos abordam o processo psicodiagnóstico, mas referem-se a testes projetivos que podem ser empregados neste tipo de avaliação. Desse modo, observamos, conjuntamente aos avanços, um distanciamento cada vez maior dos aspectos centrais que marcam o psicodiagnóstico.

Atualmente, o psicodiagnóstico ocupa um necessário lugar de resistência, em muitos momentos, de incômodo e, nesse sentido, parece ser ainda marginal tanto para alguns psicólogos  159 que consideram o processo de avaliação e o uso de testes procedimentos rotuladores e sujeitadores, quanto para aqueles que buscam neutralidade científica a partir de parâmetros psicométricos vistos como garantidores de validade e cientificidade. Entretanto, apesar das dificuldades, podemos dizer que o psicodiagnóstico resiste!

No que diz respeito especificamente ao Setor de Psicodiagnóstico, podemos afirmar que ele teve papel fundamental na formação de muitos profissionais no Rio de Janeiro, não apenas do ponto de vista técnico, mas, sobretudo, do ponto de vista ético e da conscientização sobre as possibilidades de atuação do psicólogo e sua grande responsabilidade, haja vista as consequências reais que enseja, como se constata em termos de decisões judiciais, por exemplo.

Ao trabalhar em grande medida com a perspectiva histórica, o psicólogo considera que apenas quando um sujeito ou um grupo se apropria de sua história, terá condições de vir a compreender sua condição presente de estar no mundo, para então poder se projetar no futuro, desejavelmente de uma forma mais criativa. A partir dessa perspectiva, podemos afirmar que o trabalho desenvolvido no Setor tem uma importante dimensão histórica e social para o reconhecimento das práticas avaliativas e para formação no Rio de Janeiro. Assim, conhecer um pouco da história do Setor é também conhecer um pouco das várias histórias que se cruzam e constituem quem dele se beneficiou, sejam pacientes, estudantes ou demais profissionais. Poder dar testemunho de uma história tão rica, de tantas superações e que continua em processo de transformação é, em grande medida, participar processo de construção da identidade profissional do psicólogo no Brasil e no Rio de Janeiro e se articular frente aos desafios e perspectivas que estão por vir.

Referências

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Maria do Carmo Cintra de Almeida Prado
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Maria do Carmo Cintra de Almeida Prado

Doutora em Psicologia Clínica (PUC-Rio), membro efetivo e docente da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ), membro aderente da Académie Psychanalytique Autour de l’Oeuvre de Racamier (APAOR), especialista em terapia psicanalítica de casal e família, especialista em avaliação psicológica/psicodiagnóstico, psicóloga aposentada do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, coordenadora dos Setores de Psicodiagnóstico (1982-2018) e de Terapia de Família (1990-2018) da Unidade Docente Assistencial de Psiquiatria do Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ.