Define uma organização durável ou transitória caracterizada pela necessidade, pela capacidade e pelo prazer de se colocar ao abrigo dos conflitos internos, em particular do luto, fazendo-se valer em detrimento de um objeto (1987;1992).
O OBJETO DA PERVERSÃO NARCÍSICA
Essa “imunidade objetal” que está – com a imunidade conflitual – no princípio de qualquer movimento narcisicamente perverso conhece uma regra imperativa: é que o objeto do perverso não seja verdadeiramente um. O perverso narcísico obedece a dois imperativos: não depender nunca de um objeto; não se sentir nunca inferior.
A mira positiva é a predação.
O objeto de uma predação só pode ser presa ou pombo. O perverso narcísico tem necessidade de público e de presas. Ele os encontra. Isso não quer dizer que ele tenha objetos. Em todo caso, não no sentido pleno do termo e certamente não no exercício de sua perversão. (Porque existem sujeitos que praticam um duplo setor de funcionamento relacional: clivagem, sem dúvida, mas de uma espécie original…)
Esse objeto do perverso narcísico é intercambiável: nada de mais e nada de menos que uma marionete. É um utensílio: um objeto (para retomar aqui um de meus antigos neologismos) utensilitário.
Seus contornos são certamente reconhecidos. Mas não sua realidade íntima, nem seus desejos próprios, nem seu próprio narcisismo, nem sua parte de mistério. Ele não é um objeto libidinal, nem mesmo objeto de ódio, e sobretudo não de identificação propriamente dita.
O objeto do perverso narcísico não será recusado em sua existência, mas na sua importância; ele só é suportável se for dominado, maltratado, sadisado, certo, mas sobretudo dominado.
Em resumo, é um objeto cuja autonomia narcísica é ativamente recusada. Assim sendo, ele é um objeto-não-objeto. Ele se inscreve, assim, na linhagem, descrita e desenhada, dos objetos submetidos a recusas parciais arranjadas. Um dos elementos da “galeria” dos objetos-não-objetos é ao mesmo tempo próximo e diferente do objeto-pombo, é o objeto – tornado inanimado – da relação fetichista.