“Baixa terapia”

“Baixa terapia”

Teatro Clara Nunes, Rio de Janeiro, 30.04.2023

Maria do Carmo Cintra de Almeida Prado

Pensei em escrever minha crítica sobre a peça “Baixa Terapia” e fui procurar suas credenciais, já que atualmente não se encontram mais programas disponíveis nos teatros. Ao fazê-lo, acabei por descobrir a crítica elaborada por Miguel Arcanjo Prado e achei muito curiosa a nossa abissal diferença de ponto de vista.

A proposta do texto do argentino Matías Del Federico é interessante, mas como toda comédia, requer direção de cena e trabalho de atores primorosos, o que está bem longe de acontecer sob a direção de Marco Antônio Pâmio. Sua abordagem é totalmente fora de timing, a movimentação cênica é grosseira, até mesmo vulgar, e são muito poucos os momentos em que se consegue perceber a inteligência que possa haver no texto premiado de Del Federico.

Em castelhano a peça se intitula “Bajo terapia”, que significa, em tradução literal, “Sob terapia”, título que me pareceria mais apropriado, caso fosse abordada de modo mais inspirado e inteligente. Talvez por algum ato falho, uma percepção inconsciente, tenha-se optado por traduzir o título como “Baixa terapia”, porque tudo é “baixo” mesmo nessa montagem, executada sem nenhuma sutileza, desde a direção ao trabalho dos atores, que declamam em cena suas falas olhando para a plateia, com gritos estridentes e desprovidos de verdadeira emoção, excessos de risos forçados e gestos grotescos, quando não – e repetidamente – francamente simiescos.

Consta que a peça já foi vista por 350.000 pessoas. Na sessão que presenciei, a plateia ria de qualquer palavrão, qualquer grosseria em cena, de atitudes forçadas de personagens que me pareceram absolutamente sem graça.

            O enredo diz respeito a três casais que se encontram em uma sala de espera, convocados por sua psicoterapeuta para se autoanalisarem a partir de orientações deixadas por ela em envelopes numerados, sequenciais.

Vão se dando revelações dos personagens, sempre de forma grotesca e sem timing, numa abordagem rasa e repetitiva que, se chega a levar a algum clímax em seu final, eu não poderei dizê-lo porque, após 1h10 de pura mediocridade em todos os sentidos, lastimei minha perda de dinheiro e de tempo e me retirei antes do término. A encenação e o trabalho dos atores tinham se transformado em verdadeira agressão à minha inteligência e ao meu amor pelo teatro.

Eu esperava mais de Antônio Fagundes. Assinalo que o desempenho de Mara Carvalho chega às raias do ridículo e o dos demais atores – Bruno Fagundes, Alexandra Martins, Fábio Espósito e Ilana Kaplan –   é absolutamente medíocre, sem exceção.

Lastimo muito por Del Federico, mas na montagem de Pâmio e no desempenho de todos os atores a potência da peça se perde e o que se vê em cena é uma comédia burra, grosseira, sem nenhum refinamento, cujo propósito, então, se esvai. Trata-se de uma chanchada escrachada – há quem goste, é verdade. Eu não recomendo

Avaliação: Péssima.

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Maria do Carmo Cintra de Almeida Prado
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Maria do Carmo Cintra de Almeida Prado

Doutora em Psicologia Clínica (PUC-Rio), membro efetivo e docente da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro (SPRJ), membro aderente da Académie Psychanalytique Autour de l’Oeuvre de Racamier (APAOR), especialista em terapia psicanalítica de casal e família, especialista em avaliação psicológica/psicodiagnóstico, psicóloga aposentada do Instituto de Psicologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, coordenadora dos Setores de Psicodiagnóstico (1982-2018) e de Terapia de Família (1990-2018) da Unidade Docente Assistencial de Psiquiatria do Hospital Universitário Pedro Ernesto/UERJ.